quarta-feira, 25 de julho de 2018

Rio tsiribihina, Madagáscar, as meninas



As Meninas

Arabela
abria a janela.
.
Carolina
erguia a cortina.
.
E Maria
olhava e sorria:
"Bom dia!"
.
Arabela
foi sempre a mais bela.
.
Carolina
a mais sábia menina.
.
E Maria
Apenas sorria:
"Bom dia!"
.
Pensaremos em cada menina
que vivia naquela janela;
uma que se chamava Arabela,
outra que se chamou Carolina.
Mas a nossa profunda saudade
é Maria, Maria, Maria,
que dizia com voz de amizade:
"Bom dia!"

Cecília Meireles

terça-feira, 24 de julho de 2018

Irão, Qeshm, nascemos incompletos.

Irão

A força do ser humano não se encontra no seu nascimento, mas no que irá adquirir ao longo dos anos através da cultura e da educação. Nascemos incompletos, inacabados. Somos uma promessa.

Afonso Cruz in "Jalan Jalan"

quinta-feira, 31 de maio de 2018

caterpillar man, Höfn, Islândia


O homem é uma corda estendida entre o animal e o Super-homem: uma corda sobre um abismo; perigosa travessia, perigoso caminhar; perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar. O que é de grande valor no homem é ele ser uma ponte e não um fim: o que se pode amar no homem é ele ser uma passagem e um ocaso.

Nietzsche

terça-feira, 1 de maio de 2018

a sua boneca, Laos


My Doll

Here is my dolly all tattered and torn.
Everyone loves her even though she is worn.
Her body is floppy and her hair is a mess,
But I love her dearly, and she loves me best!

Author: Unknown

quarta-feira, 4 de abril de 2018

sábado, 31 de março de 2018

a vida era assim e mais nada... Marrocos



A vida era assim e mais nada, crescíamos com a obrigação de torná-la dificil aos outros, antes que os outros a tornassem dificil a nós.

Elena Ferrante in "A Amiga Genial"

sexta-feira, 30 de março de 2018

na velha Deli, a caminho da escola.


Escola

O que significa o rio, 
a pedra, os lábios da terra 
que murmuram, de manhã, 
o acordar da respiração? 

O que significa a medida 
das margens, a cor que 
desaparece das folhas no 
lodo de um charco? 

O dourado dos ramos na 
estação seca, as gotas 
de água na ponta dos 
cabelos, os muros de hera? 

A linha envolve os objectos 
com a nitidez abstracta 
dos dedos; traça o sentido 
que a memória não guardou; 

e um fio de versos e verbos 
canta, no fundo do pátio, 
no coro de arbustos que 
o vento confunde com crianças. 

A chave das coisas está 
no equívoco da idade, 
na sombria abóbada dos meses, 
no rosto cego das nuvens. 

Nuno Júdice, in "Meditação sobre Ruínas"

pobre velha música. Marraquexe, Marrocos



Pobre Velha Música!

Pobre velha música! 
Não sei por que agrado, 
Enche-se de lágrimas 
Meu olhar parado. 

Recordo outro ouvir-te, 
Não sei se te ouvi 
Nessa minha infância 
Que me lembra em ti. 

Com que ânsia tão raiva 
Quero aquele outrora! 
E eu era feliz? Não sei: 
Fui-o outrora agora. 

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro" 

terça-feira, 13 de março de 2018

os indignados, Porto


Já reparou que o príncipio básico, modular, da sociedade não é a democracia nem o comunismo nem o capitalismo é a pulhice? Com uma grande quantidade dela, consegue-se uma nação abastada, obesa, a cheirar a courato, uma nação que não consegue baixar-se por causa das banhas nas articulações, é a sedentarização, e de lá de cima, essa sociedade, saciada com a carne dos pobres, escarra o muco esverdeado em cima dos próprios pés, e o povo acorre para lamber aquilo de joelhos, a adorar o deus de ouro e de sebo.

Afonso Cruz, Nem Todas as Baleias Voam

a melhor oração, Luang Prabang, Laos


A melhor oração é a paciência.

Buda

pescadores, canal de Moçambique, Madagáscar


(...) quanto mais te couber nas ideias mais fortuna te guardará o destino.

Valter Hugo Mãe in "Homens Imprudentemente Poéticos"

segunda-feira, 12 de março de 2018

Daisy, ilha do Sal, Cabo Verde


Daisy

The dayseye hugging the earth 
in August, ha! Spring is 
gone down in purple, 
weeds stand high in the corn, 
the rainbeaten furrow 
is clotted with sorrel 
and crabgrass, the 
branch is black under 
the heavy mass of the leaves-- 
The sun is upon a 
slender green stem 
ribbed lengthwise. 
He lies on his back-- 
it is a woman also-- 
he regards his former 
majesty and 
round the yellow center, 
split and creviced and done into 
minute flowerheads, he sends out 
his twenty rays-- a little 
and the wind is among them 
to grow cool there! 

One turns the thing over 
in his hand and looks 
at it from the rear: brownedged, 
green and pointed scales 
armor his yellow. 

But turn and turn, 
the crisp petals remain 
brief, translucent, greenfastened, 
barely touching at the edges: 
blades of limpid seashell. 

William Carlos Williams

"Professional Batman VIP", Siem Reap, Cambodja



A realidade tem rodas quadradas. Foi o sonho, a ficção, o ideal, que as fizeram redondas.

Afonso Cruz in "Jalan Jalan uma leitura do mundo"




domingo, 11 de março de 2018

em busca do castelo português, lago Tana, Etiópia


Criatividade é apontar para o alvo e acertar no centro de outro alvo qualquer.

Afonso Cruz in "Jalan Jalan uma leitura do mundo"

sábado, 10 de março de 2018

vendedor de tapetes, mercado de Minab, Irão


(...) quando a mensagem prolifera, tem o poder da verdade absoluta, ritual, religiosa: temos de apertar o cinto, temos de comer bróculos, temos de meditar e correr e comer sementes de linhaça e ser felizes todos os segundos das nossas vidas e abominar o glúten e a lactose enquanto repetimos mantras comprados em grandes superficies. Temos de denunciar árabes ao pequeno-almoço, temos de controlar o défice, e, claro, não podemos voltar a casa sem ter atraído investimento estrangeiro numa esquina qualquer.

Afonso Cruz in "Jalan Jalan uma leitura do mundo"

olhos no futuro, velha Delhi, Índia


Olhos no futuro... Afinal a Índia é uma economia emergente!

sexta-feira, 9 de março de 2018

falcoeiro, viagem medieval de Santa Maria da Feira


Croyez-vous, dit Candide, que les hommes se soient toujours mutuellement massacrés comme ils font aujourd’hui ? qu’ils aient toujours été menteurs, fourbes, perfides, ingrats, brigands, faibles, volages, lâches, envieux, gourmands, ivrognes, avares, ambitieux, sanguinaires, calomniateurs, débauchés, fanatiques, hypocrites, et sots ? — Croyez-vous, dit Martin, que les éperviers aient toujours mangé des pigeons quand ils en ont trouvé ? — Oui, sans doute, dit Candide. — Eh bien ! dit Martin, si les éperviers ont toujours eu le même caractère, pourquoi voulez-vous que les hommes aient changé le leur?

Voltaire, "Candide"

"Puja", Varanasi, Índia


Varanasi, à noite, nas margens do rio Ganges, durante a "Puja" uma cerimónia diária (365 dias no ano), de louvor aos deuses e para agradar aos turistas...

menina e moça, Lalibela, Etiópia



Menino e Moço

Tombou da haste a flor da minha infancia alada, 
Murchou na jarra de oiro o pudico jasmim: 
Voou aos altos céus Sta Aguia, linda fada, 
Que d'antes estendia as azas sobre mim. 

Julguei que fosse eterna a luz d'essa alvorada, 
E que era sempre dia, e nunca tinha fim 
Essa vizão de luar que vivia encantada, 
N'um castello de prata embutido a marfim! 

Mas, hoje, as aguias de oiro, aguias da minha infancia, 
Que me enchiam de lua o coração, outrora, 
Partiram e no céu evolam-se, a distancia! 

Debalde clamo e choro, erguendo aos céus meus ais: 
Voltam na aza do vento os ais que a alma chora; 
Ellas, porém, Senhor! ellas não voltam mais... 

António Nobre, in 'Só'

poema cabisbaixo, Madagáscar


Poema Cabisbaixo

As pessoas que andam de cabeça baixa
procuram poemas que caíram dos casulos

Lusca LLS

terça-feira, 6 de março de 2018

no mercado de Minab, Irão


One Art

The art of losing isn’t hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn’t hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother’s watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn’t hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn’t a disaster.

—Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan’t have lied. It’s evident
the art of losing’s not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.


Elizabeth Bishop, “One Art” from The Complete Poems 1926-1979

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

a sombra da pessoa. Beguidro, Madagáscar


A Sombra da Pessoa

(...) Uma pessoa não está... nítida e imóvel diante dos nossos olhos, com as suas qualidades, os seus defeitos, os seus projectos, as suas intenções para connosco (como um jardim que contemplamos, com todos os seus canteiros, através de um gradil), mas é uma sombra em que não podemos jamais penetrar, para a qual não existe conhecimento directo, a cujo respeito formamos inúmeras crenças, com auxílio de palavras e até de actos, palavras e actos que só nos fornecem informações insuficientes e aliás contraditórias, uma sombra onde podemos alternadamente imaginar, com a mesma verosimilhança, que brilham o ódio e o amor.

Marcel Proust, in 'O Caminho de Guermantes'

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

vaidade. Opera House, Sydney, Austrália


Cheguei à firme convicção de que a vaidade é a base de tudo, e de que finalmente o que chamamos de consciência é apenas a vaidade interior.

Gustave Flaubert

"mãos ao ar". Lago Tana, Etiópia


Com mãos se faz a paz se faz a guerra
Com mãos tudo se faz e se desfaz
Com mãos se faz o poema ─ e são de terra.
Com mãos se faz a guerra ─ e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedra estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

Manuel Alegre
o canto e as armas

avô e neta. Backwaters, Kerala, India


A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo.

Fernando Pessoa in "O Livro do Desassossego"

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Madrassa-Ye Khan, Shiraz, Irão


(...) só o sofrimento deixa cicatrizes, a felicidade desvanece-se sem deixar marcas.

Afonso Cruz in "Nem Todas as Baleias Voam"

tecelão, Dorze, Etiópia


Produzir tédio

O trabalhador que muitos patrões desejam é uma espécie de máquina que é tratada como máquina. O resultado (...) são pessoas que produzem coisas que não lhes interessam, trabalhando no mesmo espaço com pessoas que não lhes interessam, e quando não estão a produzir coisas que não lhes interessam com pessoas que não lhes interessam, estão a consumir coisas que não lhes interessam produzidas por pessoas como elas. Produzimos o tédio, durante oito horas por dia, para podermos comprar um tédio semelhante ao que produzimos naquelas horas. E, ainda assim, raramente temos tempo para usufruir do tédio das coisas enfadonhas que compramos. Muito por culpa, evidentemente, das horas que passamos a produzir esse mesmo tédio.

Afonso Cruz in "Jalan Jalan"

Namasté, India.


Não indagueis o nome do que vos pede pousada. Aquele que precisa de ocultar o seu nome é quem mais carece de asilo.

Victor Hugo in "Os Miseráveis"

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

arroz para plantar. Manandona, Madagáscar


Os loucos arriscam-se onde os anjos receiam pisar

C. J. Tudor in "O Homem de Giz"

viagem em Marrocos. Medina de Fez


A viagem é uma ponte para o desconhecido. Um encontro com um olhar estrangeiro, um olhar onde, afinal, fulge a mesma ânsia e que é turvado pelos mesmos medos que o nosso próprio olhar... Por um instante, é como se fossemos nós, do outro lado do espelho

´Pedro Mota in Prefácio de "Jalan Jalan" de Afonso Cruz

retrato, Gondar. Etiópia


O segredo está na capacidade pulmonar. A vida é a retenção da respiração da alma. Inspira, mergulha, volta à superficie, é isso.

Afonso Cruz in "Nem Todas as Baleias Voam"

cão silencioso, Istambul


Desconfia das águas silenciosas, dos cães silenciosos, do inimigo silencioso.


Valter Hugo Mãe in "Homens Imprudentemente Poéticos"

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

sorriso audível das folhas. Luang Prabang, Laos



Sorriso Audível das Folhas

Sorriso audível das folhas 
Não és mais que a brisa ali 
Se eu te olho e tu me olhas, 
Quem primeiro é que sorri? 
O primeiro a sorrir ri. 

Ri e olha de repente 
Para fins de não olhar 
Para onde nas folhas sente 
O som do vento a passar 
Tudo é vento e disfarçar. 

Mas o olhar, de estar olhando 
Onde não olha, voltou 
E estamos os dois falando 
O que se não conversou 
Isto acaba ou começou? 

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

mãe e filho, bairro muçulmano, Delhi a velha. Índia



A Índia é um país grande. Não pela
extensão mas porque é antigo. O tempo, num
país inteligente, é a extensão mais significativa.
Milhares de metros quadrados ocupam, em teoria,
uma superfície importante.
Também o número de andares dos edifícios
é facto bem visível das janelas dos aviões.
Porém, é a História de um país
que dá a intensidade da ligação da árvore à terra.
E cada país é uma árvore.

"Uma Viagem à Índia", Canto VII, 17
Gonçalo M. Tavares

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

domingo, 4 de fevereiro de 2018

casas móveis. Dorze, Etiópia


PPS: Vou mudar de casa e não sei para onde vou. Isso enche-me de esperança

Arundhati Roy in "O Ministério da Felicidade Suprema"

guerreiro, viagem medieval de Santa Maria da Feira


Retrato do Herói

Herói é quem num muro branco inscreve 
O fogo da palavra que o liberta: 
Sangue do homem novo que diz povo 
e morre devagar de morte certa. 

Homem é quem anónimo por leve 
lhe ser o nome próprio traz aberta 
a alma à fome fechado o corpo ao breve 
instante em que a denúncia fica alerta. 

Herói é quem morrendo perfilado 
Não é santo nem mártir nem soldado 
Mas apenas por último indefeso. 

Homem é quem tombando apavorado 
dá o sangue ao futuro e fica ileso 
pois lutando apagado morre aceso. 

Ary dos Santos, in 'Fotosgrafias' 

o rapaz do frango, Begidro, Madagáscar


Quem não tem dinheiro para viver em cidades, não deve vir para cá - declarou um juíz do Supremo Tribunal, ao ordenar a expulsão imediata dos pobres da cidade.

Arundhati Roy in "O Ministério da Felicidade Suprema"

amigos, bairro muçulmano, Delhi a velha. Índia

"Mas tudo se passa como se os habitantes
da cidade fossem, em vez de crápulas,
substâncias entre o anjo e um material
que ao tacto seja semelhante ao veludo.
Contudo, se passares docemente a mão sobre
o rosto de alguém da nossa espécie
ficarás com a mão ferida. (...)"

"Uma Viagem à Índia", Canto V, 43
Gonçalo M. Tavares

barbeiro, bairro muçulmano, Delhi a velha. Índia



" (...) Numa única rua, um continente aperta-se

para que cada um possa vender o que tem."



"Uma Viagem à Índia", Canto VII, 19
Gonçalo M. Tavares

oficina, bairro muçulmano, Delhi a velha. Índia


"Só não se enterra uma máquina: nunca
tal foi visto. Há como que uma incompatibilidade
entre substâncias que dependem da electricidade,
por um lado, e a lama: um pormenor sujo do mapa. (...)"

"Uma Viagem à Índia", Canto V, 45
Gonçalo M. Tavares

sábado, 3 de fevereiro de 2018

na estação de Varanasi. Índia


Poema do Homem Só

Sós,
irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.

Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros nada explicam:
Arrefecem

Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de outro se refracta,
nehum ser nós se transmite.

Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.

Dão-se os lábios, dão-se os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, e dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.

Mas este íntimo secreto
que no silêncio concreto,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarçe,
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se, e desflorar-se,
é nosso de mais ninguém.

António Gedeão

a fogueira crepita.Turmi, Etiópia



Crepita a fogueira...
Entre nuvens mais estrelas.
Fogos de artifício.

Fanny Dupré

tecnologia. Salvador, Bahia



Saudade da Bahia

Ai, ai que saudade eu tenho da Bahia
Ai, se eu escutasse o que mamãe dizia
Bem, não vá deixar a sua mãe aflita
A gente faz o que o coração dita
Mas este mundo é feito de maldade e ilusão
Ai, se eu escutasse hoje eu não sofria
Ai, esta saudade dentro do meu peito
Bem, se ter saudade é ter algum defeito
Eu pelo menos mereço o direito
De ter alguém com quem eu possa me confessar.

Ponha-se no meu lugar
E veja como sofre um pobre infeliz
Que tendo que desabafar
Dizendo a todo mundo o que ninguém diz

Veja que situação
E veja como sofre um pobre coração
Pobre de quem acredita
Na glória e no dinheiro para ser feliz

Dorival Caymmi

a estética. Atenas, Grécia


"(...) A estética terminou. Ficou o dinheiro.
Os homens são génios do bem para o ouro, 
génios do mal para a paisagem."

in "Uma Viagem à Índia" Gonçalo M Tavares

como uma criança. Chicago


Como uma Criança

Como uma criança antes de a ensinarem a ser grande, 
Fui verdadeiro e leal ao que vi e ouvi. 

Alberto Caeiro, in "Fragmentos"